terça-feira, 22 de janeiro de 2013

50 anos de carreira de um dos maiores ícones do Carnaval, Getúlio Cavalcanti

Getúlio Cavalcanti, nome reconhecido do frevo, tem uma obra composta de dez CDs, com vários sucessos que fazem parte do carnaval pernambucano, sendo Último regresso o mais conhecido. E parece que seu destino não poderia ser diferente; começou a ter contato com a música desde cedo: “Eu recebi meu primeiro presente aos cinco anos de idade, foi um realejo, e logo fui tentando tocá-lo, era como se já tivesse uma interação antiga com ele... Depois ganhei uma sanfona, aos seis ou sete anos...” Aos oito anos, Getúlio entrou na banda de Camutanga, onde começou a estudar música, com o instrumento sax soprano.

Tempos depois, Getúlio deixou a cidade e se mudou para Timbaúba, porque em sua cidade natal os estudos só iam até a quarta série. Lá, ficou interno em um colégio e perdeu o contato com a música. Só alguns anos depois, ele voltou a tocar: “Com 12 anos, ganhei de presente um violão e aí comecei, de fato, a entender um pouquinho mais de música, a gostar mais da música, a cantar melhor... Nesse tempo, eu já cantava... Depois achei que seria fácil compor, uma vez que eu já tinha uma base...”, diz Cavalcanti. Aos 15 anos, participou da Orquestra Sinfônica de Camutanga, tocando e cantando os sucessos da época.

Mas foi quando o maestro veio para o Recife que ele deu os passos mais importantes para consolidar sua carreira. Quando ele veio, junto com o violão, começou a participar de programas de calouros, até que, aos 19 anos, já cantor profissional, ingressou na Rádio Clube. Nessa época, conheceu o maestro Nelson Ferreira e com ele gravou sua primeira música para o carnaval de 1963, a histórica Você gostou de mim, que teve grande reconhecimento. O artista completa, este ano, seus 50 anos de carreira

Ao ser perguntado sobre o porquê de sua escolha pelo frevo, Getúlio declarou: “Por um motivo muito simples, quando cheguei na cidade do Recife, eu vi que havia um grande espaço, no frevo, para o compositor. Existiam aqueles grandes discos, excelentes discos, feitos pela Rozenblit... Ela fazia com que todo ano tocassem músicas novas de frevo, músicas que todo mundo cantava”. Os discos saíam nos meses de setembro, outubro e novembro, que eram as prévias de carnaval. Segundo o artista, as rádios eram poucas e a concorrência também, de forma que o que tocava na rádio era ouvido por todos. Ele destacou as Rádios Clube, Jornal, Tamandaré e Olinda como as principais, as que tocavam o estilo carnavalesco. “Eu senti que o frevo poderia ser um bom caminho pra que eu pudesse compor e participar do movimento carnavalesco; eu sempre gostei muito de carnaval”.

Sobre o boom na carreira, o carnavalesco também citou como de grande ajuda, a participação de um amigo seu, Moisés Kerstmann. “No ano posterior ao lançamento de Você gostou de mim, eu fiz um frevo-canção chamado Solteirão, que foi uma homenagem que eu fiz ao Clube dos Solteiros do Recife. Imagine só, clube dos solteiros... O presidente do clube era um grande amigo meu, o jornalista Moisés Kerstmann. Infelizmente não está mais conosco. Esse cidadão me ajudou em tudo. Se não fosse ele, talvez eu não estivesse participando do carnaval pernambucano como participo. Ele me levava para as prévias, fazia com que eu fosse destaque nas colunas sociais que ele escrevia... Era um grande jornalista, inteligentíssimo.”

“Quais foram as coisas que mais o tocaram nestes 50 anos de carreira?”, perguntei. Getúlio respondeu: “Uma das coisas foi a minha primeira apresentação do meu frevo-canção no concurso da Prefeitura em 1963, defronte ao Diario de Pernambuco, que era chamado de QG do Frevo, na Praça da Independência. Ali era colocado um palco imenso, com jornalistas de nome, eu me lembro de todos eles ali, fazendo o concurso”. O concurso foi numa segunda-feira de carnaval, com as músicas que estavam sendo tocadas no período. E o artista continua: “Eu fiquei em terceiro lugar nesse concurso, Nelson Ferreira foi segundo e Capiba foi primeiro. Perdi pros dois... Não é perder, não é? Foi uma tarde histórica pra mim e eu tive muita alegria em participar”.

O artista diz que outra grande alegria que sentiu foi ser reconhecido pela Prefeitura do Recife, quando ela fez um carnaval em homenagem a ele. Foi a primeira vez que Getúlio subiu ao palco do Chevrolet Hall, na festa do Baile Municipal. Na ocasião, o artista subiu para cantar com o maestro Spok.

“Uma alegria constante é sair com o Bloco da Saudade pelas ruas do Recife, pelas ruas de Olinda, sentindo o cheiro de xixi daquelas ruas estreitas, entendeu? E comendo poeira, que eu acho que o artista é isso”, Getúlio complementa.

O compositor diz que recebeu grandes influências no seu trabalho musical. Em primeiro lugar, de Nelson Ferreira, o qual ele intitula como seu primeiro mestre, segundo Capiba, também como grande poeta, “a poesia de Capiba é uma poesia pura e que fala das coisas normais do cotidiano” e em terceiro tem Antônio Maria, “ele fazia da música dele o que eu chamo de a crônica. Antônio Maria não era só um cronista do jornal, ele era da música também. Ele fazia crônica da vida, das pessoas, e isso me influenciou muito”.

Quando toquei no assunto sobre os comentários que dizem que o frevo não se renova, Getúlio declarou: “Lamento quando dizem que o frevo não mudou...Qual o termo que você usou mesmo? “Renovou.” Veja bem, alguém poderia me dizer quando o Fado se renovou, quando o Tango se renovou, a Valsa se renovou? Inovar em quê, em que sentido? Quando a música vem de raiz, é histórica, não tem como você mudar tudo. Você pode trazer alguns instrumentos novos, qualquer coisa, mas mudar tudo é impossível. O maestro Spok fez algo muito bom, o frevo estava precisando, ele fez as pessoas terem vontade de sentar pra escutar frevo”.

“E sobre essa vitória recente, a de que o frevo se tornou patrimônio cultural da Humanidade?” Getúlio: “Pronto, essa é um prova cabal de que o frevo tem seu valor. Esse trabalho todo que foi feito, o fato de ter sido coroado com essa distinção... Jamais essas músicas que vendem duzentos, trezentos, quatrocentos, quinhentos mil discos vão conseguir uma láurea dessa natureza. Agora o frevo sim, porque ele é raiz, é história. Não acredito que exista outro estado do país que tenha toda essa riqueza incomensurável que Pernambuco tem”.

Getúlio Cavalcanti lança este ano seu novo CD, Getúlio Cavalcanti – 50 anos de Lirismo, e pretende pô-lo à venda já neste mês de janeiro. O disco é uma coletânea dos seus 18 maiores sucessos, como Último regresso, Você gostou de mim e O bom Sebastião, feitos em sua longa e admirada jornada. “Vou estar fantasiado como faço em todo carnaval, dando minha contribuição a alguns blocos, como o Bloco da Saudade do qual eu gosto muito, e provavelmente vendendo meu ‘cdzinho’ na ocasião” [risos].

Getúlio finaliza a entrevista emitindo sua opinião sobre o carnaval dos dias atuais: “O que eu mais queria é que resgatassem e valorizassem mais a cultura local, o maracatu, o caboclinho, o frevo, claro, e outros estilos da terra. Isso é importantíssimo para eternizar nossa cultura”.


Por: Guilherme Menezes

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