terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Dona Duda é a homenageada do carnaval de Paulista

Ela é considerada a pioneira da Ciranda no Nordeste e completa 90 anos em 2013

Por: JC Online
Prestes a completar 90 anos, a primeira cirandeira nos registros da cultura popular do Nordeste, Vitalina Alberta de Souza Paz, mais conhecida como Dona Duda, será a homenageada deste ano do carnaval de Paulista, Região Metropolitana do Recife. A comemoração será com shows de artistas locais do domingo à terça-feira de carnaval no Polo da Ciranda, no Forte de Pau Amarelo, montado especialmente para a ocasião. De acordo com o secretário de Turismo, Cultura, Desporto e Juventude da cidade, Felipe Andrade, a intenção é valorizar o ritmo que é marca do município na pessoa de Dona Duda além de valorizar os artistas locais.

Dona Duda nasceu no dia 11 de abril de 1923 em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, e sempre gostou de fazer brincadeiras de roda com a família e os amigos. Aos nove anos, escreveu a sua primeira rima e cantou enquanto brincava de roda. Quando completou 19 anos, ela mudou-se com a família para o Janga, numa casa perto da praia e em 1950 ela resolveu fazer a brincadeira de sua infância para divertir as crianças do local, filhos de pescadores, que eram proibidos de dançar côco com os adultos na época. “Eu via que eles queriam muito brincar então fiz a primeira ciranda na praia. Era uma festa”, recorda a cirandeira. E brincavam ouvindo a letra que dizia Eu cheguei na praia, avistei a areia, a maré tá cheia e eu não vou passar, rima que escreveu ao ver pela primeira vez o mar.

Mulher bastante ocupada, ela era costureira e dona do Bar Cobiçado, primeiro da beira-mar do Janga, então fazia as cirandas nas noites do Dia de Reis, do Sábado de Aleluia e de 7 de setembro mas o costume foi crescendo e os turistas que vinham para o Estado queriam ver de perto a graça e o talento de Dona Duda. Ela foi convidada a levar a brincadeira para Olinda, cidade vizinha, mas se recusou. A patir daí, as cirandas aconteciam em um menor intervalo de tempo - primeiro 15 dias, depois 7 e por fim duas vezes a cada fim de semana - para atender a demanda de turistas que vinham de todas as partes do Nordeste e do Brasil.

Prestativa, Dona Duda, sempre gostou de ajudar as pessoas da comunidade cuidando dos doentes do local, fazendo partos quando não tinha parteira e custeando enterros quando as famílias não tinham dinheiro para pagar. “Nunca fui rica mas tudo que tive reparti com os outros”, diz ela. Mesmo ficando tão famosa, nunca saiu do Brasil. Em 1970, auge da carreira, foi convidada pelo presidente Emílio Garrastazu Médici para se apresentar na Copa do Mundo mas não aceitou o convite. “Sempre fui uma pessoa muito apegada a minha família a aos meus afazeres. Não conseguia ficar longe”, disse. Nesse mesmo ano, parou de cantar devido a um problema na tireoide. Mas ela não deixou de escrever as cirandas para outros intérpretes. Ela tem acontecimentos importantes guardados na sua memória: o dia em que conheceu seu ídolo Luiz Gonzaga bem como homenagens feitas por Paulo Guerra, governador da época, e pela cantora de forró Cylene Araújo que escreveu a biografia da cirandeira e organizou o cd Ciranda do amor com composições de Dona Duda.

Dona Duda ganhou muitos prêmios e medalhas, escreveu cerca de 100 rimas para ciranda e diz que o amor pelo ritmo partiu da infância. “Meu marido era louco por carnaval mas não gostava. Minha vida era a ciranda”, diz ela. Hoje com 2 filhos, 9 netos, 10 bisnetos e 3 tataranetos, ela se prepara para ganhar de presente o Museu da Dona Duda que terá espaço no Forte de Pau Amarelo, ainda sem data definida. “Sempre foi um sonho meu deixar o que fiz e vivi para as pessoas”, completou.

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