sábado, 19 de janeiro de 2019

Os carnavais de Joana Lira ocupam o Museu Cais do Sertão

Por Camila Estephania
Criada na cidade alta de Olinda, a designer gráfica recifense Joana Lira lembra com carinho as fantasias que ocupavam pelo menos duas gavetas do seu guarda-roupa quando criança. Mesmo quando acabava o Carnaval, a folia era presença constante na vida da artista e estava sempre ali, entre saias e blusas, esperando o próximo ano pra tomar forma novamente. Seu rico imaginário carnavalesco construído desde a infância se concretizou ainda mais quando, entre os anos de 2001 e 2011, Joana assinou a identidade visual da cenografia do Carnaval do Recife que fazem parte da memória afetiva de diferentes gerações de foliões.
Para relembrar suas obras desenvolvidas para esse período, a exposição “Quando a vida é uma euforia” entra em cartaz na Sala Umbuzeiro, do Museu Cais do Sertão, nesta terça-feira (15) até o dia 17 de março. Com curadoria e direção artística de Mamé Shimabukuro, a mostra chega à capital pernambucana em versão estendida depois de ter passado pelo Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. “Aqui ela vem um pouco mais consistente por questões de verba e do tamanho do espaço. Não é uma exposição só contemplativa, ela tem animação, tem ambientes interativos, tem uma parte mais imersiva na Sala São Francisco e tem o núcleo fantasia, que é dos homenageados do carnaval. É uma exposição para criar emoção no visitante”, comenta ela, ao explicar que as obras não são ligadas por uma ordem cronológica nem estão presas a uma linha narrativa.

Apesar de abranger dez Carnavais diferentes, as peças se completam e apresentam a mesma estética, mas ganham temas diferentes, de acordo com o ano. “Em 2001, Recife passou a ter os polos descentralizados e havia a ideia de oferecer mais estrutura ao folião para ele não ficar só no Marco Zero. Roberto Peixe (Secretario de Cultura do Recife na época) convidou o escritório do meu pai (o arquiteto Carlos Augusto Lira) e ele me chamou para trabalhar com ele pela primeira vez. Foi uma experiência bem imersiva, porque fizermos esse primeiro projeto em 15 dias. Cada polo tinha que ter uma linguagem, então, acabava sendo uma homenagem a essa diversidade do nosso Carnaval, por isso foi muito gostoso também”, relembra Joana que, nos anos seguintes, sempre explorava novos personagens para o material não ficar repetitivo.
“O número de personagens que representava cada polo foi crescendo, de modo que, começamos com quatro e no último ano que fiz tínhamos nove. A partir de 2006, a gente pediu a Prefeitura um tema que vinha com os homenageados e pedimos para incluir um artista plástico. Todos eles e as famílias deles me deixavam muito livre para fazer a minha interpretação. Teve artistas que mergulhei na história, outros explorei mais graficamente, foi um trabalho muito bom”, diz ela, que a partir de 2006 desenvolveu obras inspiradas nos trabalhos de mestres como Ariano Suassuna, Lula Cardoso Ayres, Abelardo da Hora, Cícero Dias, Vicente do Rego Monteiro e Tereza Costa Rêgo.
A exposição explora várias ferramentas para proporcionar uma experiência imersiva e interativa ao visitante.
Até 2005, as criações de Joana para o Carnaval foram mais pictóricas e serviram também para testar materiais, volumes e tecnologias que funcionassem nas ruas desde a manhã, sob a luz do sol, até a noite, com iluminação artificial. “Nasci em uma família de artistas. Meus pais são arquitetos, minha mãe também trabalhava com design têxtil e foi casada com o artista plástico Petrônio Cunha. Tive uma convivência muito doméstica com ele e o via trabalhando diferentes materiais. Diria que os três formaram o tripé que deu base às minhas criações”, revela Joana, ao falar de suas inspirações.
Para a exposição, as peças foram recriadas para se adaptarem ao Museu. “Os desenhos sempre foram digitais, o que a gente fez foi pensar a ambiência, porque as peças de rua não caberiam aqui. Nem teve como elas serem conservadas, nem a dimensão delas caberiam no Museu”, observa ela.
“O Carnaval já é parte da minha alma, temos uma cultura muito arraigada, porque é muito rico o que a gente consegue viver aqui. Isso me influencia até hoje, mesmo morando longe. Quando você sai do Recife e tem uma cultura tão forte, acontecem duas coisas: você está sempre se reafirmando; e o que você tem de mais universal é o que você tem de mais único, que é a sua raiz”, conclui ela, ao explicar que a festa, onde tantas manifestações culturais do Estado se encontram, é até hoje uma de suas principais inspirações.

SERVIÇO:
Exposição “Quando a vida é uma euforia”, de Joana Lira
Quando: Abertura nesta terça-feira (15)
Onde: Museu Cais do Sertão (Av. Alfredo Lisboa S/N – Recife Antigo)

Visitação de 15 de janeiro a 17 de março de 2019
Terça a sexta – 09 às 17h
Sábado e domingo – 13 às 17h

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